Marco Weissheimer

Quanto vale toda a pesquisa realizada por um conjunto de instituições do Estado do Rio Grande do Sul nas últimas décadas? Quanto vale o conhecimento produzido por essas pesquisas? Qual o valor disso para o desenvolvimento do Estado? Essas foram algumas das perguntas formuladas no seminário promovido nesta quarta-feira (7) pelo Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa e de Fundações Estaduais do RS (Semapi), no Salão de Eventos do Hotel Plaza San Rafael, em Porto Alegre. Centenas de servidores de fundações ameaçadas de extinção pelo governo José Ivo Sartori participaram do encontro que debateu estratégias de mobilização para as próximas semanas contra o pacote do governo Sartori encaminhado à Assembleia.

“Quanto vale o conhecimento que nós produzimos?- perguntou o economista Thomas Fiori, da Fundação de Economia e Estatística (FEE), que acabou sendo aplaudido de pé por centenas de servidores ao questionar, emocionado, a lógica do pacote de Sartori que penaliza as principais instituições de pesquisa e planejamento do Estado. “O fato de estarmos trocando recursos de pesquisa científica por vagas em presídios diz muito sobre a situação atual da sociedade gaúcha”, observou Fiori. Se a FEE for extinta, acrescentou, ocorrerá o desmantelamento de um trabalho estatístico que trata da história econômica do Rio Grande do Sul desde o século XIX.

Cristina Charão, jornalista da TVE, e Thomas Fiori, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE) lembraram o valor do conhecimento que será perdido caso as fundações sejam extintas. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Na mesma linha, a jornalista Cristina Charão, servidora da TVE, questionou os critérios utilizados pelo governo Sartori para propor a extinção de fundações que são responsáveis pela produção de conhecimento e cultura no Estado:

“Existe um consenso na Declaração Universal de Direitos Humanos que a liberdade de expressão é um direito fundamental. As emissoras públicas nasceram por isso, para não deixar toda a comunicação submetida ao sistema privado. A TVE e a FM Cultura fazem parte desse sistema público de garantias de um direito fundamental. A extinção da Fundação Piratini, da TVE e da FM Cultura, são agressões a esses direitos fundamentais”, disse a jornalista Cristina Charão, servidora da TVE. “Não estamos na mira do governo Sartori porque há uma crise financeira, mas sim porque o que eles querem implementar no Rio Grande do Sul e no país é um modelo sem ciência e sem cultura, sem cérebro e sem coração. O pacote do Sartori transforma o Rio Grande do Sul em um estado zumbi”, afirmou a jornalista.

Mara Feltes, diretora do Semapi, contextualizou os projetos do governo Sartori lembrando aqueles que foram lançados no governo de Antonio Britto. “Estamos vivendo o mesmo pesadelo, só que agora de modo mais grave. Este seminário é também um encontro de esclarecimento para a sociedade sobre o que está acontecendo no Estado˜., assinalou. A presidenta do Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul, Helenir Aguiar Schurer, destacou que o golpe aplicado em nível nacional não foi contra um partido A ou B, mas sim contra os direitos dos trabalhadores. “O problema não é financeiro propriamente, mas sim de concepção de Estado”.

Claudir Nespolo, presidente da CUT-RS, convocou servidores para o ato unificado do dia 13 de dezembro. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Claudir Nespolo, presidente da Central Única dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul (CUT-RS), anunciou que a entidade está mobilizando trabalhadores do setor privado debatendo o que está acontecendo no Estado e no país. Nespolo criticou as propostas de extinção das fundações encaminhadas pelo governador Sartori à Assembleia e as conseqüências das mesmas para o Estado. “Os contratos de prestação de serviços (para substituir o trabalho que é realizado pelas fundações) já devem estar prontos na Fiergs, na Federasul, na Farsul”, ironizou o dirigente da CUT que convocou todos os servidores a participarem do ato unificado que será realizado no próximo dia 13 no Largo Glenio Peres. Claudir Nespolo considerou outras possibilidades de mobilização também. “Considerem com muito carinho a possibilidade de ocupações e de uma greve geral do serviço público contra esse pacote do Sartori”.

O encontro também contou com a participação de ex-dirigentes das fundações, como o engenheiro nuclear Odilon Marcuzzo do Canto, ex-reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e ex-presidente da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), durante o governo Olívio Dutra. “Na minha vida, já passei por diversos tipos de governo. O que não se pode admitir é que um governo eleito encaminhe questões de Estado sem fazer nenhum diálogo com a sociedade. Há, sim, a necessidade de promover alterações na estrutura do Estado, mas, além de coragem, é preciso ter discernimento para fazer isso. Hoje, em todo o mundo, se sabe que a base do desenvolvimento é o conhecimento. Fazer tabula rasa de todas essas fundações não tem nenhuma inteligência nem racionalidade”, afirmou.

Ex-presidente do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), João Jornada destacou que qualquer país ou Estado precisa ter uma infraestrutura de apoio nas áreas de planejamento, pesquisa e conhecimento. “Há uma parte intangível do trabalho de fundações como a Cientec que também fazem parte do patrimônio público. Representando o reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Rui Oppermann, o professor Marco Cepik expressou o apoio da instituição à luta das fundações e também criticou os projetos de extinção do governo Sartori. “A luta de vocês repercute em toda a sociedade gaúcha”, afirmou Cepik, lembrando que a Escola de Governo, que funciona junto à Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), formou, só em 2015, 2.700 alunos, com um orçamento equivalente a 2% do que teve em 2014.

O professor Ludwig Buckup, Doutor em Zoologia, criticou duramente a proposta de extinção da Fundação Zoobotânica, lembrando o valor científico da instituição e do trabalho que a mesma realiza. “Na verdade, a Fundação Zoobotânica incomoda já não é de hoje. Quantas vezes a Secretaria do Meio Ambiente, no governo Yeda, resistiu aos estudos e pareceres da Fundação sobre a silvicultura. Hoje, a Sema é muito competente em emitir licenças para o plantio de eucalipto e para grandes empreendimentos. Alguém tem que ir ao Palácio e explicar ao governador Sartori que a época das passarinhadas já passou”.

O seminário teve apoio das associações de funcionários de Cientec, Metroplan, FDRH, FEE e FZB, além da CUT. Ao final do encontro, foi aprovado um documento em defesa das fundações que será encaminhado à Assembleia Legislativa.

Fonte: Sul 21