O primeiro painelista do encontro foi o jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, que abordou o tema Conjuntura Nacional e o papel da Mídia no Golpe.

Ficha começa a cair

Miro, como é chamado, falou sobre a conjuntura atual do país, destacando a incerteza política que paira no ar e que também reflete na sociedade, que, aos poucos, começa a se dar conta de que foi manipulada pela mídia para derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff.

“Uma conjuntura de incertezas e muito dinâmica é o que estamos vivendo hoje. A única certeza que temos é que a ficha de quem pediu o impeachment de Dilma Rousseff está caindo. Eles se dão conta que foram manipulados, fazendo papéis de idiotas, indo às ruas vestidos com a camiseta da CBF para pedir o impeachment de uma presidenta honesta. Assim que a ficha começa a cair, o arrependimento daqueles que cometeram um profundo erro começa a aparecer. Esta é a única certeza que vai ficando para a sociedade, inclusive para setores que serviram de massa de manobra, que foram manipulados”, afirma Altamiro.

Ainda, segundo o painelista, fica claro que os argumentos de pedalas fiscais, corrupção e crise foram arquitetados, em conjunto, para retirar Dilma da presidência e colocar em prática um outro projeto que no voto não ganharia.

“O argumento das pedaladas fiscais, como crime, caiu por terra. As peladas são feitas no mundo todo, pois não é um crime e sim uma manobra fiscal. O presidente Obama fez, o Lula fez, o Fernando Henrique fez. No caso da Dilma ela também fez, mas para realocar dinheiro para saúde e educação. O segundo argumento foi a corrupção, mas quem dirigiu o processo de impeachment foi o Eduardo Cunha, um dos piores bandidos. Então quem foi às ruas para acabar com a corrupção acabou ajudando uma quadrilha no Palácio do Planalto. Esses argumentos estão caindo um a um, pois o que temos pós-golpe é o governo mais corrupto dos últimos tempos”, afirmou ele.

Mídia como protagonista do golpe

Também de acordo com Altamiro Borges, a mídia foi a protagonista do golpe e sustentou o argumento de que a culpa da crise seria da presidenta Dilma.

“Na época, a mídia dizia que a crise era responsabilidade da Dilma, mas, na verdade, a crise era mundial. A mídia dizia que crise internacional era história para aliviar a barra do governo de Dilma. Fato que já não se sustenta, pois, mesmo com o governo ilegítimo, a crise segue, e muito pior, pois as medidas que eles tomaram só agravou a situação. Então, o golpe foi dado para mudar o projeto que estava em curso no país, um projeto que favorecia as camadas mais pobres da sociedade e os trabalhadores. Eles pensaram: já que não dá para aplicar nosso projeto via eleições, vamos via golpe. Assim, eles aplicaram um golpe parlamentar, judicial, midiático com o claro objetivo de aplicar um projeto que no voto não ganha”, ressaltou.

Fragilidade do governo Temer

O jornalista Altamiro Borges ressalta, por fim, que a mídia foi o fator determinante para consumar a derrubada da presidenta Dilma. “Nossos políticos não são ideológicos, são fisiológicos, são comprados e defendem os seus interesses pessoais. Num determinado momento, estiveram do nosso lado, quando Lula estava em alta. Mas quando a corda apertou se voltaram contra. Então, hoje, Temer tem em suas mãos o Congresso, os aparelhos de Estado, a elite empresarial brasileira e a mídia. Esta última como fator determinante criou todo o clima para o golpe. Dizia que o governo Dilma era responsável por toda a crise e corrupção que estava vindo à tona, que se tirasse a Dilma o país iria tomar o rumo certo. Quando conseguiram derrubar a Dilma, começaram a dizer que a economia já voltava a crescer, que com Temer a crise dava sinais de melhora, mais uma mentira para blindar o golpista Temer aos olhos do povo”.

Com a sequência de ações que retiram direitos dos trabalhadores sendo aprovada, mídia blindando e setores da burguesia apoiando, Temer parece forte, mas, na opinião de Miro, o governo é frágil e já começa a se desmantelar.

“Vamos aos problemas: Congresso é fisiológico, não ideológico, então a qualquer momento pode apunhalá-lo. Os aparelhos de estado são incontroláveis, e a qualquer momento, saindo a lista de delação da Odebrecht, esses mesmos que o apoiaram para se proteger, começam a se dedurar. A burguesia, que já está descontente com as ações tomadas, também começa a perceber que o governo não vai fazer a economia melhorar e sim agravá-la ainda mais. Portanto, os interesses começam a se dividir, enfraquecendo o governo, que não tem moral para tratar nada, a não ser por meio de negociatas. E isso começa a se expressar também na mídia, dividida, mostrando que um setor está descontente e expressando isso nas manchetes e matérias nas revistas e telejornais, que já não estão blindando tanto o governo”, alertou Miro.

Desafios

O jornalista finalizou sua fala dizendo que é preciso intensificar a luta política e unir a esquerda brasileira. “Hoje qualquer postura partidária, hegemonista e sectária é prejudicial. Precisamos olhar para frente e nos unir para resistir a esta onda que está por vir. Juntar todos que pensar igual a nós. Só vamos conseguir resistir se tivermos muita capacidade de luta e muita unidade.  Esses são os dois grandes desafios do movimento sindical e social”, conclui Miro.

Logo em seguida, o assessor jurídico da Fecosul, David Fialkow, falou da conjuntura econômica do país e do RS. As mudanças cíclicas que ocorreram com a troca de governo foram destacadas na explanação do economista.

“O Governo Temer promoveu brutal esforço para encerrar ciclo iniciado por Lula e iniciar outro, em sentido inverso. Investiu pesado e prolongou o ajuste fiscal, na destruição dos avanços sociais e trabalhistas. Inverteu a postura internacional de valorizar soberania e articulação multipolar por uma de submissão à velha ordem unipolar sob supremacia dos EUA em declínio. Além de alinhar-se com a retirada de direitos trabalhistas, como a terceirização sem limites, o legislado anulado perante o acordado, elevando a idade de aposentadoria para 70 anos, reduzindo benefícios. Essas são apenas algumas das mudanças que estão sendo implementadas. Então saímos de um momento que apontávamos para frente, para ficarmos na retranca”, apontou o economista.

Comércio atingido

“Vendas do comércio registraram a maior queda, desde 2002, em setembro deste ano, um recuo de 1%, segundo IBGE. Na comparação com setembro do ano passado, o comércio sofreu tombo de 5,9%. Com isso, no ano, o varejo acumula queda de 6,5% e, em 12 meses, de 6,6%. As perdas foram generalizadas e isso é um sinal de alerta” (IBGE)”, destacou David.

Maturidade para resistir

“O momento exige maturidade, mas amplitude. O centro político tende a entrar em contradição com o projeto em curso. Os sindicalistas não podem se isolar, os perigos são grandes e não permitem ações guiadas tão-somente pela emoção. Mas, os conservadores trazem o tema do orçamento, levando multidões a se aproximarem da noção do descalabro da dívida interna. Têm os pés de barro. Tende a crescer o movimento sindical e popular, defesa do trabalho, direitos sociais, democracia e a soberania”, finalizou o economista.

Após os painelistas debaterem os assuntos, a jornalista da Fecosul, Juliana Ramiro, apresentou o novo site da entidade para a direção e o conselho. “O projeto integra uma série de ações da nossa Federação, que busca modernizar suas ferramentas de comunicação, para ampliar a visibilidade das informações e das atividades realizadas e, assim, contribuir para este novo momento de luta e de resistência que vive o movimento sindical como um todo”, ressaltou Juliana.

O primeiro dia da reunião foi encerrado com o presidente da Fecosul, Guiomar Vidor, que apresentou o balanço das atividades de 2016.

Texto: Marina Pinheiro | Assessoria de Comunicação Fecosul