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A indústria afunda enquanto banqueiros e rentistas nadam em dinheiro
A produção industrial brasileira caiu 0,6% em junho na comparação com maio, conforme as estatísticas divulgadas nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o segundo mês seguido de contração do setor – em maio, a queda foi de 0,1%. É mais um sinal de que a economia caminha no rumo de uma nova recessão.
Houve piora em 17 das 26 atividades e em todas as categorias econômicas, de bens intermediários, de consumo e de capital. O resultado negativo é também mais um sintoma da progressiva desindustrialização do país, que constitui um sério obstáculo ao desenvolvimento nacional.
Num significativo contraste com este cenário desolador, que afeta negativamente os demais setores da economia e traz de volta a recessão, banqueiros e rentistas continuam lucrando como nunca antes em nosso violentado Brasil.
O Itaú, o maior banco privado do país, festejou lucro líquido na casa dos R$ 7 bilhões no segundo trimestre. O acumulado do ano chegou em R$ 13,87 bilhões para deleite de proprietários e acionistas.
Já os trabalhadores e trabalhadoras bancárias amargam a perspectiva de novas demissões. No mesmo dia que saiu o balanço do ano, o Itaú anunciou a abertura de um PDV (Programa de Desligamento Voluntário) direcionado a funcionários de todas as empresas do grupo. A política de cortes está bem mais agressiva. Em 2018, foram desligados 8.618 bancários e apenas no primeiro mês de 2019 mais 664.
Indústria retrocede a 2009
Com os resultados de junho, a indústria brasileira operou em um patamar 17,9% abaixo do ponto mais elevado da série histórica, alcançado em maio de 2011. “Isso remete ao patamar em que a indústria operava no começo de 2009”, observou o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo.
Nos dois meses seguidos de perdas na produção, a indústria acumula queda de 0,7%. “Em comum para esses dois meses, além do resultado negativo, é o próprio perfil disseminado de quedas. Temos 17 dos 26 ramos industriais com quedas na produção. Por categorias econômicas, todas elas também acumulam queda na passagem de maio para junho”, enfatizou Macedo.
Bens de capital foi o ramo da indústria que mais perdeu em termos de patamar de produção, ficando 32,7% abaixo do seu pico de produção, registrado em setembro de 2013. Isto sinaliza para a continuidade da queda nos investimentos produtivos. Na comparação com junho do ano passado, a queda da indústria foi de 5,9%.
Acumulado no semestre
A indústria fechou o primeiro semestre deste ano com queda de 1,6% em sua produção. No primeiro semestre do ano passado, o saldo havia sido de um crescimento de 2,2%, seguido por uma estabilidade (0,0%) no segundo semestre.
“Especialmente a partir do segundo semestre do ano passado, a gente vê claramente que a produção industrial vem perdendo fôlego. Está claramente em um momento de desaceleração, e isso a gente percebe também quando observa os resultados trimestrais”, apontou o gerente da pesquisa, André Macedo.
Segundo o pesquisador, na comparação com o primeiro trimestre do ano, a indústria recuou 0,7%. Já na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a queda foi de 1%. Foi o terceiro trimestre seguido de quedas, já que na comparação do segundo trimestre de 2018 com o primeiro do mesmo ano, houve recuo de 0,6%.
Atividades e setores
Entre as atividades, a piora na indústria na passagem de maio para junho foi puxada principalmente pelas quedas em produtos alimentícios (-2,1%), máquinas e equipamentos (-6,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-1,7%), que representam, juntas, cerca de um terço da produção total.
“São segmentos importantes que precisam de uma demanda doméstica mais fortalecida e que são diretamente afetados por um mercado de trabalho ainda longe de uma recuperação consistente”, explica Macedo.
Ainda em relação ao mês anterior, houve perdas em todas as grandes categorias econômicas, sendo a mais intensa de 1,2% em bens de consumo semi e não duráveis. As demais taxas negativas foram em bens de consumo duráveis (-0,6%), de capital (-0,4%) e intermediários (-0,3%).
Efeitos de Brumadinho
Na comparação com os dados de maio, a indústria extrativa teve alta de 1,4%, em sua segunda taxa positiva consecutiva, acumulando 11% de alta, ainda insuficiente para repor a perda acumulada de 25,6% entre janeiro e abril, quando registrou quatro quedas seguidas.
“Apesar destas duas últimas altas seguidas, a indústria extrativa ainda sofre uma relação direta com o acidente de Brumadinho, por causa do minério de ferro”, apontou Macedo. Segundo o pesquisador, a indústria extrativa representa cerca de 11% da indústria geral no país.
Na comparação com junho de 2018, o setor teve queda de 16,3%, também pressionado pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro deste ano, que fez com que algumas atividades extrativas deixassem de funcionar ou o fizessem em ritmo menor.
No semestre, a produção da indústria extrativa teve queda de 13,7% na comparação com o mesmo semestre do ano anterior. Já a indústria de transformação teve alta de 0,2% no mesmo período.
“Se a gente considerar apenas a indústria da transformação, excluindo o resultado da extrativa, no semestre a indústria teria acumulado alta de 0,2%, não a queda de 1,6%”, disse Macedo. “A despeito do -1,6% da queda no semestre e da alta de 0,2% da indústria de transformação, ainda assim tem razões para essa indústria estar longe de mostrar qualquer sinal de recuperação”, afirmou.
Ele apontou que a conjuntura econômica impede avanço do setor industrial. Dentre outros fatores, ele apontou o fato de ainda haver muita gente fora do mercado de trabalho, as pesquisas de intenção de consumo ainda mostrando um cenário de pessimismo, o aumento no nível de estoque da indústria e as perdas associadas à crise na Argentina.
“Quando a gente observa um segmento como o de bens intermediários, que é um grupamento com quase 50% do total da indústria, sendo o único negativo [no acumulado do ano] entre as categorias econômicas, a gente tem um pouco da dimensão dos impactos que a redução na extração do minério de ferro tem sobre o contexto da indústria como um todo”, enfatizou Macedo.
Com informações do G1