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Viamão tem mais casos de COVID 19 que leitos de UTI; o 11 de setembro
O número de UTIs não será suficiente para atender pacientes da COVID-19 a partir da próxima semana, conforme estudo desenvolvido por brasileiros que projeta que, mantido o atual isolamento social, o volume total de infectados pode passar de 3 milhões e o de mortos, de 393 mil.
Em Viamão, Gravataí, Cachoeirinha, a aplicação do modelo matemático usado pelo governador Eduardo Leite para manter a ‘quarentena’ leva ao mesmo alerta, com base em números que apresentei nos artigos O estudo que prorrogou para o dia 30 abertura do comércio; Viamão, Gravataí, Cachoeirinha teriam 15 vezes mais casos e Os milhares de Viamão que estão no grupo de risco da COVID 19; teste se você escapa.
O cenário nacional foi construído por um grupo de seis pesquisadores das áreas de Física e Medicina ligados às universidades federais de Alagoas e do Rio Grande do Norte, à Santa Casa de Maceió, ao Centro de Testagem e Acolhimento de HIV/AIDS de Itaberaba (BA) e à Escola Superior de Ciências da Saúde, em Brasília.
Conforme o UOL, o estudo datado de 3 de abril foi submetido a publicação internacional e é preliminar, ou seja, ainda não foi avaliado por pares, mas mostrou aderência aos dados reais pelo menos até o último dia 15 de abril: a evolução do número de mortos divulgados pelo Ministério da Saúde (um indicador com menor subnotificação do que o volume total de casos e, por isso, mais confiável) tem sido consistente com as previsões apontadas pela equipe e usadas como base para o cálculo da utilização dos leitos de UTI nos hospitais.
Vamos a possíveis projeções locais.
Dados compilados pelo Google sobre o deslocamento das pessoas em diferentes cidades apontam uma taxa de isolamento social de apenas 50%, o que significa que em Viamão mais de 127 mil pessoas circulam pelas ruas; Em Gravataí, mais de 140 mil, e em Cachoeirinha, mais de 65 mil.
Pelos números oficiais, se todos os pacientes contaminados pela SARS-CoV-2 precisassem ao mesmo tempo de tratamento intensivo nas três cidades, já não teríamos mais leitos.
Viamão tem 17 casos e 15 leitos de UTI; Gravataí tem 14 casos e 12 leitos e Cachoeirinha tem 8 casos e 6 leitos (ainda em instalação no ‘hospital de campanha’).
Aplicando modelo ‘1 para 15’ usado pelo governo do RS para aproximar os dados de reais de subnotificações (como casos de síndrome respiratória aguda grave, que cresceram 253% no país nos primeiros três meses do ano), Viamão teria potencialmente 195 casos; Gravataí 210 e Cachoeirinha 120.
Cenário pior é calculado por especialistas como Margareth Dalcomo, pneumologista da Fiocruz e a principal referência da área no Brasil, que usa a fórmula ’30 para 1’. VIamão teria 390 infectados, Gravataí 420 e Cachoeirinha 240.
Como a média de internação de pacientes em UTIs de pacientes em decorrência do novo coronavírus é de 5% (conforme estudo da Science, revista científica mais importante do mundo), calculando no ‘1 para 15’, Gravataí, com 12 leitos, teria potencialmente 11 pacientes precisando de internação e respiradores; Cachoeirinha 6 para 6 leitos e Viamão 10 para 14 leitos.
No cenário catastrófico do ‘1 para 30’, 20 infectados graves para 15 leitos em Viamão, 21 para 12 leitos em Gravataí; 12 para seis leitos em Cachoeirinha.
Nenhuma das três cidades é referência no tratamento da COVID-19, o que alivia a pressão nas UTIs, que tem maior rotatividade. Em Viamão, Gravataí e Cachoeirinha a estratégia é estabilizar o paciente e aguardar a transferência para leitos nos hospitais Clínicas e Santa Casa, em Porto Alegre; e Universitário, em Canoas.
A rede da Capital já registra, nos 75% de ocupação de UTIs, 10% com casos da COVID-19. Entre 25 de março e 1º de abril, última estimativa divulgada, o número de doentes relacionados ao coronavírus nas UTIs havia disparado 107%.
Em São Paulo o primeiro hospital atingiu 100% de lotação em UTIs: o Instituto de Infectologia Emilio Ribas.
O período médio de internação de pacientes graves em UTIs chega a 14 dias, o ocasiona a ‘fila’ que, mundo afora, tem feitos pacientes morrerem à espera de leitos ou em casa, na ‘Escolha de Sofia’, que médicos já tiveram que fazer na Itália, por exemplo, seguindo protocolo internacional que, entre um jovem e um idoso, a prioridade é para o paciente que tiver mais chances de responder positivamente ao tratamento.
O Ministério da Saúde anunciou terça que estabelecimentos de saúde públicos e privados nos 26 estados e Distrito Federal agora são obrigados a registrar em um sistema unificado as internações hospitalares dos casos suspeitos e confirmados do novo coronavírus.
Conforme a reportagem de Camilla Veras Mota, o ‘censo hospitalar’ servirá para avaliar o consumo dos leitos da rede assistencial e a média de permanência dos usuários. O primeiro balanço deve sair na próxima semana. Até então, o país não tem um dado nacional consolidado sobre a utilização dos leitos de UTI.
Ao fim, hoje, e desde sempre, já que as taxas de lotação é de 95% para o SUS e 80% para medicina privadas, as UTIs de Viamão e Gravataí estão ocupadas por outros casos que não a COVID-19. Cachoeirinha só deve colocar seus leitos em funcionamento nesta semana. Daí a importância do #FiqueEmCasa para ‘achatar a curva’ do contágio e não colapsar o sistema de saúde público e privado.
Infelizmente, são números e projeções que já testemunhamos virar rostos e, conforme advertiu há pouco, ao despedir-se, o agora ex-ministro da da Saúde Luiz Henrique Mandetta, ainda estamos no fim do início. Hoje no Brasil morreram 188 pela COVID-19. Nos EUA em 24h perdeu-se o mesmo número de vidas que nos atentados do 11 de Setembro. A pandemia é mundial, não uma conspiração que escolhe lado da ferradura ideológica ou rede de televisão. Filhos, netos e a História (com agá maiúsculo) cobrarão aqueles que insistirem em levantar-se nas patas dianteiras para gritar:
– É só uma ‘gripezinha’!
Fonte: Diário de Viamão