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‘Abolir a escala 6×1 é dar um afago ao trabalhador violado desde a escravidão’, diz Erika Hilton

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A deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) destacou a força e a repercussão do projeto que propõe o fim da escala 6×1, uma das principais pautas do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), liderado junto ao vereador Rick Azevedo (Psol-RJ). Em entrevista ao Conversa Bem Viver desta quinta-feira (1º), a parlamentar reforçou que o VAT é um projeto com potencial para renovar o movimento sindical no Brasil, aproximando o debate das novas gerações e dos trabalhadores precarizados, como os entregadores por aplicativo.

Ela defendeu que o fim do 6×1 pode ter efeitos indiretos sobre a informalidade e comparou a proposta, em impacto social, à implementação de cotas. “Abolir a escala 6×1 é também abraçar, acolher, respeitar e dar um afago a esse trabalhador tão judiado e violado em seus direitos desde a escravidão”, afirmou.

Segundo Hilton, a proposta ganhou adesão popular e conseguiu “encurralar setores burgueses da política”, que não conseguem justificar por que o trabalhador não pode ter mais tempo para si e sua família. Para ela, o debate ultrapassou a esquerda e se tornou uma pauta de toda a classe trabalhadora brasileira.

A deputada também comentou as dificuldades para que o projeto avance no Congresso. Segundo ela, o principal entrave é a falta de vontade política e o peso do lobby empresarial, que influencia fortemente o Legislativo. Ainda assim, Hilton vê uma janela de oportunidade com a troca da presidência da Câmara: a saída de Arthur Lira (PP-AL) e a chegada de Hugo Motta (Republicanos-PB). “Não necessariamente mais esperançosa, mas olhando as oportunidades”, disse, ressaltando que o novo comando pode permitir que a proposta, ao menos, seja pautada na Casa.

Neste 1º de Maio, o movimento Vida Além do Trabalho realiza mobilizações em diversas cidades do país para pressionar pelo avanço do projeto.

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Confira a entrevista:

A senhora avalia que o Vida Além do Trabalho, o fim da escala 6×1, é o movimento da esquerda, do campo progressista, mais importante em vigência no país?

Essa foi uma pauta que encurralou alguns setores burgueses da política brasileira, que não conseguiram dar uma resposta à altura de por que não mudar a escala de trabalho. Por que não permitir que o trabalhador tenha mais tempo de convívio com sua família, mais tempo de descanso, mais tempo para cuidar de si, menos esgotamento físico e mental? Faltaram elementos para que essa resposta fosse dada. Então essa pauta foi, de alguma maneira, homogeneizada pelo conjunto da sociedade, em todos os espectros políticos. Essa é uma das pautas mais fortes neste momento da esquerda, mas também do Brasil e da classe trabalhadora.

O que falta para a proposta avançar no Congresso?

Falta boa vontade política, falta interesse. Há um lobby muito grande de grandes conglomerados de patrões, de pessoas poderosas que mandam e desmandam na política por meio de alguns mandatos que se comportam como uma marionete do capital, dos patrões, do agronegócio, da burguesia. Esse lobby é muito poderoso. Mas há uma sinalização positiva por parte do presidente da Câmara, Hugo Motta, de que esse debate será pautado. Ele não deu prazo, data e horário, mas fez uma sinalização.

A senhora ficou mais esperançosa com a saída de Arthur Lira e a chegada do seu sucessor, Hugo Motta, na presidência da Câmara?

A mudança da presidência na mesa significa, sim, um aumento das nossas possibilidades. Eu acho que, nesse arejar dos estados e das mudanças, podemos encontrar uma brecha de oportunidade muito potente para adentrar essa pauta. Não estou necessariamente mais esperançosa, mas olhando as oportunidades, entendendo que a mudança de uma mesa, pela postura e por uma série de outros elementos, pode facilitar com que a gente consiga levar adiante essa proposição, pelo menos para que ela seja pautada.

Acha que também falta vontade do próprio governo de encampar mais essa pauta para conseguir pressionar outros deputados ou o próprio presidente da Câmara?

Eu acho que o governo poderia, sim, ter entrado mais fortemente nessa disputa com o Congresso Nacional, conversando com as bancadas, com os líderes, pressionando o presidente da mesa. Mas, desde as últimas conversas que nós tivemos, da semana passada para cá, eu acho que haverá uma maior entrada do Palácio do Planalto para que a gente consiga fazer as pressões necessárias para que a pauta ande, que ela vá à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Pelo menos é o que eu espero.

A senhora chegou a pedir para que o presidente Lula participasse do ato de 1º de Maio, em razão do pedido do fim da jornada exaustiva?

Não. Não cheguei a fazer esse pedido. O presidente tem uma presença histórica nas ruas nessa data, mas me parece que esse ano não contará com a presença do presidente Lula, e eu imagino que ele teve as suas razões. Esse pronunciamento de hoje [publicado em apoio ao fim da jornada 6×1], eu acho que vai ser extremamente importante, e uma sinalização muito boa tanto para o conjunto da classe trabalhadora quanto para mim, para a bancada do Psol e para a Câmara dos Deputados.

Houve algum interesse de tentar unificar as manifestações do VAT com as manifestações das centrais sindicais?

O vereador Rick Azevedo teve algumas conversas bilaterais para tentar organizar. Em alguns lugares foi possível, em outros não houve concordância sobre os termos, de como seria, de como faria. Às vezes, uma disputa pelo protagonismo. Em algumas cidades, essa junção não foi tão tranquila e possível como nós imaginaríamos que seria. Alguns sindicalistas defendem que essas mudanças, as reformas e acordos deveriam ser uma relação direta entre empregado e empregador. E nós acreditamos que não, que é preciso mudar a lei, a CLT. Talvez isso possa ter gerado algum tipo de ruído.

A senhora acredita que essa movimentação, liderada com Rick Azevedo, pode rejuvenescer ou reinventar o movimento sindical no Brasil?

Eu espero que sim. Acho que alguns setores sindicais têm um apego à velha guarda e um saudosismo do que foi essa época. Mas é preciso entender que o mundo do trabalho também mudou, e a relação com o trabalho é outra. Aquele poder que os sindicatos tinham de mobilização, de aglutinar a classe trabalhadora, hoje não tem o mesmo impacto e a mesma força. Eu acredito e torço muito para que a nossa presença e o debate que levantamos sirva para realimentar, fortalecer e reorganizar o conjunto de trabalhadores nas mais diversas áreas e tipos de trabalho.

Como tem sido o diálogo para que a classe de entregadores por aplicativo, por exemplo, que sofre com a ‘uberização’, também possa se beneficiar do VAT, visto que não são trabalhadores formais e não participam da CLT?

Imaginamos que, ainda que o texto não atinja os trabalhadores informais, haverá algum tipo de impacto direto na informalidade. Com a mudança da Constituição e a CLT, reduzindo a carga horária e a jornada de trabalho, acreditamos que haverá um efeito cascata que chegará na informalidade de alguma maneira. Também esperamos a diminuição de trabalhadores na informalidade porque grande parte são aqueles que querem ter um horário flexível de trabalho. Há um estudo que mostra que, com a mudança da escala, nós teremos um aumento de 3 a 6 milhões de novos postos de trabalho; eles seriam absorvidos pela formalidade. Mas nós estamos conversando com os trabalhadores informais, das big techs, das plataformas de entrega, para entender como podemos, se não no texto como está apresentado, pensar saídas e alternativas que também os contemplem de maneira mais abraçada a essa medida.

A senhora considera que o fim da escala 6×1 pode ser, de alguma maneira, equiparado à implementação de cotas?

Com as devidas proporções, sem sombra de dúvida, há sim um paralelo entre elas. Um dos lemas que nós levamos para as ruas é “abolir a escala 6×1”, entendendo que é quase uma forma de escravidão moderna. O trabalhador vive para trabalhar, vive em função do trabalho; é o trabalhador do subemprego, dos postos de trabalho vistos com menosprezo pela sociedade. A grande maioria que está empregada nesses postos são mulheres negras, homens negros, a comunidade LGBTQIA+. Então reduzir a jornada de trabalho é também abraçar, acolher, respeitar e dar um afago a esse trabalhador tão judiado, tão precarizado, tão violentado e violado em seus direitos desde a escravidão.

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