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Alta de juros não deve conter inflação e “esfria” a economia, alerta Dieese
RBA – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou nesta quarta-feira (22), em 1 ponto percentual a taxa básica de juros. A Selic passou de 5,25% para 6,25%, atingindo o maior nível desde julho de 2019.
De acordo com a autoridade monetária, a decisão se deu em função da preocupação com a elevação geral dos preços. Em agosto, segundo IBGE, a inflação de medida pelo IPCA registrou alta de 0,87%, a maior para o mês desde o ano 2000. Contudo, esse aumento não está relacionado ao crescimento da demanda interna.
Nesse sentindo, a subida da Selic deve ter pouco impacto na inflação. E ainda deve trazer outras consequências negativas, esfriando ainda as perspectivas de retomada da economia, que foi abalada pela pandemia.
“A atual variação da inflação tem muito mais a ver com os preços administrados – como energia elétrica e combustíveis – e com os preços internacionais de commodities (produtos agrícolas e minerais) vinculados ao dólar”, explicou o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta quinta (23).
Como efeitos negativos, Fausto cita o encarecimento do crédito para famílias e empresas. Além disso, também encarece o financiamento da dívida pública.
“Ou seja, mexer na taxa básica não vai alterar nos elementos que estão causando a inflação nesse momento. Por outro lado, vai esfriar ainda mais a economia. Vamos ter mais recursos indo para mercado financeiro de um lado, e uma piora geral da economia para o brasileiro comum, do outro”, afirmou.
Modelo ultrapassado
Desde fevereiro, quando foi sancionada a lei que garante autonomia ao Banco Central, a autoridade monetária passou operar, em tese, a partir do modelo de “mandato duplo”. Além da meta de inflação, também devem “suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”. Contudo, essas novas atribuições parecem não estar sendo seguidas à risca, ou até mesmo ignoradas, segundo Fausto.
“Não é possível um país com quase 15 milhões de desempregados ter sucessivos aumentos na taxa de juros, aumentando o custo do capital. Durante a pandemia, estamos com uma quebradeira de empresas, que vão precisar de mais créditos. E o crédito fica mais caro. Além disso, o governo também aumentou o IOF. Tudo vai ao contrário das demandas reais para sair desse momento ruim que estamos vivendo”, ressaltou.
Assista à entrevista
Foto: Raphael Ribeiro / BCB