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Margaridas rumo a Brasília para marchar pela esperança de reconstrução do Brasil
Uma das maiores mobilizações de mulheres do país volta a Brasília nesta terça (15) e quarta-feira (16). A 7ª Marcha das Margaridas completará 23 anos desde a primeira edição que ocupou a capital federal para lutar contra a pobreza e a violência sexista.
Três ônibus saíram na tarde de domingo (13) de Porto Alegre para levar a garra das mulheres gaúchas e fortalecer o movimento. “Será lindo e histórico, assim como é histórica a nossa delegação do Rio Grande do Sul, com 800 integrantes credenciadas na coordenação nacional da Marcha”, destaca a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-RS, Mara Weber.
Enquanto em 2000, ainda durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), a pauta se baseava em três eixos – valorização da participação da mulher na reforma agrária e na agricultura familiar, a garantia e ampliação dos direitos trabalhistas e sociais e o combate à violência e à impunidade no campo e a todas as formas de discriminação social e de gênero -, em 2023 a lista de reivindicações é bem mais extensa.
A manifestação deste ano conta com 13 eixos políticos:
– Democracia participativa e soberania popular
– Poder e participação política das mulheres
– Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética
– Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios
– Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional
– Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns e proteção da natureza com justiça ambiental e climática
– Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda
– Educação pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo
– Saúde, previdência e assistência social pública, universal e solidária
– Universalização do acesso à internet e inclusão digital
– Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo
– Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade
O norte das margaridas é a reconstrução do Brasil após seis anos de resistência em que em que as políticas púbicas e os direitos da população mais vulnerável foram atacados desde o governo do golpista Michel Temer (MDB) até a eleição do ex-presidente inelegível Jair Bolsonaro (PL).
A marcha deste ano também defende a ideia de bem viver, um conceito que está associado à experiência de vida coletiva expressa por meio da solidariedade, do compartilhamento e do direito à existência para todas, inclusive das mulheres negras, trabalhadoras, do campo, da floresta e das águas. As mais afetadas pela devastação e mercantilização da natureza e da biodiversidade a partir da atuação devastadora de transnacionais da mineração e do agronegócio.
Associado a todos esses aspectos, a secretária nacional de Mulheres da CUT, Juneia Batista, aponta a importância das manifestações para garantir ainda o protagonismo político feminino.
“Nossa expectativa é reunir 100 mil margaridas, 4 mil apenas da CUT, para reafirmar uma agenda em defesa das nossas vidas e da nossa soberania. Passamos quatro anos de resistência durante o governo do inominável e agora o objetivo é avançar em nossas pautas”, afirma.
Começo de tudo
Coordenada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a mobilização tem como ponto de partida a resposta ao assassinato da sindicalista Margarida Maria Alves. Trabalhadora rural, nordestina e uma das primeiras mulheres a exercer um cargo de direção sindical no Brasil, ela foi morta a tiros na porta de casa no interior da Paraíba, em 1983.
Secretária de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Contag, Maria José Morais Costa, mais conhecida como Mazé, afirma que a expectativa é por respostas concretas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já confirmou presença no evento.
Desde a primeira edição, as mulheres obtiveram avanços para as trabalhadoras rurais como titulação conjunta de terras, programas de documentação, acesso ao crédito, à educação no campo e à aposentadoria aos 55 anos, dentre outras vitórias.
De acordo com Mazé, a expectativa é retomar políticas que foram retiradas ou extintas e, apesar de afirmar que todas as reivindicações são fundamentais, ela elege o combate à violência contra as mulheres e o acesso à saúde, à terra e à educação como pontos essenciais.
“Espero que no dia 16 o governo do presidente Lula faça anúncios sobre nossas reivindicações que efetivamente tenham impacto sobre a vida das mulheres. Especialmente em relação à terra, porque sem ela não há como produzir, gerar renda e ter autonomia”, diz.
As margaridas
Muito antes do ato político, a marcha começa com histórias de solidariedade que marcam quem vai para Brasília e ajudam a formar olhares. Em Sergipe, a Secretaria da Mulher da CUT organizou um brechó itinerante, vendeu roupas, bijouterias, artesanato, entre outros itens, para angariar fundos, custear os ônibus e alimentação durante a viagem para o maior número possível de ‘Margaridas’ poder estar presente na capital federal.
É o caso de pessoas como Verônica Souza Santos Oliveira, titular de uma área de terra no assentamento Cajazeira, no povoado de Pururuca, em Sergipe. “Sei que para eu conseguir a minha terra, muitas mulheres lutaram, foram a Brasília, saíram de suas casas. E a gente sabe, tem agricultora que até para participar de uma reunião do sindicato não tem direito porque o marido não deixa. Ela precisa sair de fininho, dar um jeitinho para participar. Então, quando a gente faz este chamado, é pra dizer que venham mesmo e participem. Lutar é preciso”, avalia.
Programação
Além da marcha, o encontro de mulheres na capital federal ainda apresentará uma extensa programação, que começa já nesta terça-feira, às 9 horas, no Plenário do Senado Federal, onde acontecerá a sessão solene em homenagem à manifestação. A secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Juneia Batista, representará as trabalhadoras das centrais sindicais.
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O acampamento dos movimentos, como ocorreu nas edições anteriores, será no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, onde haverá diversas atividades culturais e de formação.
Na parte interna do Pavilhão, a organização promoveu a instalação da Casa de Margarida Alves, espaço que funcionará exclusivamente no dia 15, das 9 horas às 17 horas, e receberá lançamento de livros, espetáculos, filmes e documentários.
Ao longo do dia, a programação inclui debates, rodas de conversas, oficinas, painéis e espaços fixos dedicados a ações como trocas de sementes.
Na área externa, haverá a instalação da Mostra Nacional da Produção das Margaridas e também um ponto de coleta da campanha de arrecadação de alimentos não-perecíveis e de roupas em bom estado, principalmente de agasalhos, para doação a entidades que atendem pessoas carentes de Brasília.
A concentração para a marcha será nesta quarta-feira, às 6 horas, em frente ao Pavilhão do Parque da Cidade, de onde as mulheres sairão rumo ao Congresso Nacional, onde ocorrerá o ato de encerramento, previso para às 10h30, com a presença do presidente Lula.
Fonte: CUT RS