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Palestra de Daniela Sandi, do DIEESE, aborda os desafios da categoria comerciária diante das novas tecnologias
No encerramento do Seminário Planejamento realizado nos dias 24 e 25 de abril pelo Sindicomerciários Caxias, os diretores da entidade receberam a palestrante Daniela Sandi, economista-chefe do DIEESE RS, que abordou as transformações no comércio e desafios para a organização sindical com as novas tecnologias.
A técnica abordou o rápido crescimento do comércio virtual, chamado “e-comerce”, bem como a introdução de novas tecnologias no setor e um processo de terceirização acentuado que vem provocando uma precarização do mercado de trabalho e redução salarial.
A economista iniciou o debate apresentando os últimos dados do comércio e economia de Caxias do Sul, disponibilizados até 2021. Atualmente, o comércio representa 17% do emprego formal em Caxias do Sul, com aproximadamente 25 mil trabalhadores (antes da pandemia, até 2021), sendo formado 54% por mulheres.
Já no RS, o comércio representa 23,7% dos empregos formais, com 625.180 trabalhadores e trabalhadoras, “nível que está crescendo, mas não recuperou o nível de 2014, quando o país vivia uma situação econômica diferenciada, antes da Reforma Trabalhista e, de sofrer os efeitos da pandemia de Covid”, complementa a economista.
Nova realidade
As novas tecnologias e as mudanças nos hábitos de consume têm gerado mudanças no setor. “Houve uma migração das vagas de empregos do comércio para as áreas de logística, transporte e tecnologia, o que aumentou principalmente na pandemia, quando as pessoas passaram a utilizar mais a internet para fazer compras sem sair de casa. Assim, presenciamos o fechamento de vagas no comércio”. Para Daniela, “o processo tende a se agravar mais, principalmente com a adoção de processos de autoatendimento. É preciso um processo de capacitação dos profissionais para que estejam aptos a nova realidade e, o debate da sociedade, meio político e sindical para gerar iniciativas de proteção a esses trabalhadores e trabalhadoras”.
Efeitos da crise econômica e Reforma Trabalhista
Segundo a técnica do DIEESE “a crise na economia, a Reforma Trabalhista, a pandemia e as novas tecnologias resultaram não só no fechamento de vagas em alguns setores, como também a precarização dos vínculos de trabalho com a liberação de trabalho intermitente e terceirizado.
As novas tecnologias trazem consigo o acúmulo e concentração da riqueza, a intensificação da desigualdade social”. “Atualmente temos 11 projetos de lei que tramitaram no Congresso para regular o uso das novas tecnologias e seus efeitos no mercado de trabalho. O movimento sindical tem um papel fundamental no debate e em ser agente de transformação”.
Daniela citou a proposta da Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat) 2022: “Regulamentar o art. 7º, inciso XXVII, da Constituição Federal, que prevê a proteção dos trabalhadores frente a inovações tecnológicas que possam
resultar em desemprego ou precarização, como frentistas, cobradores, caixas, entre outros, implementando políticas de transição para a assimilação dessas tecnologias, com ampla e intensiva qualificação e recolocação profissional”.
Um dos principais temas apresentados e discutidos pelos diretores foi o da concorrência com as novas plataformas de vendas implantadas pelas empresas, que acabam por diminuir os rendimentos dos trabalhadores do comércio e a exigir que os mesmos trabalhem até fora do horário efetuando vendas e atendimentos através de seus dispositivos móveis (celulares, tablets, etc).
Nilvo Riboldi Filho, presidente do Sindicomerciários Caxias destacou que o Sindicomerciários está alinhado com as preocupações trazidas pelo DIEESE. “Estamos empenhados em debater e levar para mesa de negociação da Convenção Trabalhista, CCT, esse tema das novas tecnologias. Bem como, estamos discutindo e firmando parceria com diversas entidades e instituições para a capacitação e requalificação de trabalhadores. Provavelmente não temos como evitar as mudanças, mas é preciso discutir e valorizar o trabalho dos comerciários e comerciárias. A utilização indiscriminada, sem debate e sem controle de novas tecnologias e processos não está apenas comprometendo o emprego e o rendimento dos trabalhadores e trabalhadoras, está causando a adoecimento! A procura por ajuda e tratamento psicológico e psiquiátrico na assistência médica aumentou vertiginosamente, principalmente após a pandemia. Temos caso até mesmo de tentativas de suicídio! Os patrões não podem buscar o lucro a qualquer custo!”, completou.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) é uma entidade criada e mantida pelo movimento sindical brasileiro com o objetivo de desenvolver pesquisas que subsidiassem as demandas dos trabalhadores.
Fonte: Fecosul