Dados do IBGE mostram que desemprego é maior entre pretos, pardos e mulheres; subutilizados mostram que a crise pode ser maior do que indicam os números do desemprego.
Após trabalhar três anos como atendente de telemarketing, Gerusa Pereira, 40 anos, está em busca de um emprego formal. Mesmo sendo formada em Letras, a procura por uma colocação já dura quase um ano, sem sucesso. Para garantir parte da renda, Gerusa aceitou um trabalho informal e, hoje, distribui panfletos. A habilidade de se comunicar, que antes ela exercia ao telefone, agora é posta à prova nas ruas.
“Isso que me salvou, que me ajudou a pagar minhas contas”, diz. Mas o alívio em ter as finanças em dia não tira de Gerusa o seu real anseio: ter carteira assinada e ganhar um bom salário.
Gerusa não está sozinha. A pesquisa divulgada nesta quinta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que falta trabalho para 27,7 milhões de brasileiros, um número acima dos 13,7 milhões de desempregados.
Esse número representa os trabalhadores subutilizados no país, grupo que reúne os desempregados, aqueles que estão subocupados (menos de 40 horas semanais trabalhadas) e os que fazem parte da força de trabalho potencial (não estão procurando emprego por motivos diversos).
A busca por trabalho, afirma Gerusa, tem sido inglória. “Se você não tiver uma indicação, você não consegue uma vaga”, fala. Ela ressalta nunca ter conseguido dar aulas, desejo que acalentou durante a graduação. “A gente se forma, chega fresca no mercado, mas não tem chance porque ainda não tem experiência”, desabafa.
Veja o que são considerados trabalhadores subutilizados e quantos estavam nessa condição no 1º trimestre de 2018:
- 13,7 milhões de desempregados: pessoas que não trabalham, mas procuraram empregos nos últimos 30 dias;
- 6,2 milhões de subocupados: pessoas que trabalham menos de 40 horas por semana, mas gostariam de trabalhar mais;
- 7,8 milhões de pessoas que poderiam trabalhar, mas não trabalham (força de trabalho potencial): grupo que inclui 4,6 milhões de desalentados (que desistiram de procurar emprego) e outras 3,2 milhões de pessoas que podem trabalhar, mas que não têm disponibilidade por algum motivo, como mulheres que deixam o emprego para cuidar os filhos.
Preto, pardo e mulher: os mais afetados pelo desemprego
Os dados do IBGE mostram que alguns grupos são mais afetados pelo desemprego, como os pretos, pardos e as mulheres.
A taxa de desocupação no 1º trimestre foi de 15% para mulheres e de 11,6% para homens. Entre os que se declaram brancos, a taxa ficou em 10,5% no 1º trimestre, abaixo da média nacional (13,1%), enquanto a dos pretos (16,0%) e a dos pardos (15,1%) ficou acima.
Para os jovens, a maior barreira no mercado de trabalho é a falta de experiência. Marcelle Lima de Figueiredo, de 22 anos, conseguiu seu primeiro emprego formal este ano, como atendente de loja, mas foi dispensada pouco mais de um mês depois de assumir a vaga.
“Antes eu ajudava meu tio a vender salgados. Depois que eu saí da loja, estou indo sempre atrás de emprego, mas como eu não tenho experiência, não consigo nada. Não chamam nem para entrevista”, lamenta.
A administradora Tayane Araújo Cesário, de 36 anos, está há três meses procurando emprego. Antes, trabalhou em uma empresa de previdência privada cobrindo férias. “Eu era temporária. Em um primeiro contrato, fiquei 15 dias. Depois voltei e fiquei mais três meses”.
Ela reclama que a busca por uma nova oportunidade tem sido desanimadora. “Tenho procurado bastante. O valor dos salários está bem baixo e os horários também não têm sido bons”, reclama. Tayane enfatizou, ainda, que o fato de ser mãe de dois filhos pequenos – um de 3 anos e outro de 8 – dificulta ainda mais a busca por emprego.
Subutilizados: os que trabalham menos horas
Jacqueline Duarte de Oliveira, de 50 anos, é a terapeuta ocupacional e tem um emprego público com carga horária semanal de 30 horas. Ela conta que busca outro trabalho que a remunere melhor, mesmo que sob uma jornada mais extensa, mas não encontra vagas.
“Eu poderia trabalhar mais, porém não consigo”, reclama.
“O que aparece está igual ou pior ao emprego que eu tenho. Normalmente são contratos temporários, o que não me interessa”, diz.
Informalidade: tem ocupação, mas sem carteira assinada
Alberto Engelke tem 30 anos, nunca trabalhou com carteira assinada e afirma não almejar uma contratação formal. “A carteira assinada tem suas vantagens, mas até quando eu teria esses benefícios?”, questiona, inseguro com a situação do mercado de trabalho.
Há aproximadamente seis anos ele trabalha como promotor de eventos diversos, ocupação que não lhe demanda carga horária fixa. Por conta dessa flexibilidade, há cerca de seis meses começou a trabalhar também como motorista de aplicativo de transporte. “Quando não estou em evento, estou no carro”, conta.
A estudante Patrícia Azeredo, de 29 anos, cursa atualmente o 5º período de enfermagem, mas ainda não atua profissionalmente na área. Trabalha com promoção de eventos e se diz satisfeita com o ramo. “Evento surge toda hora e eu consigo ser bem remunerada”, diz.
Revela que trabalha menos horas por dia do que poderia, mas não busca outra ocupação. “Eu só aceitaria um emprego para trabalhar mais se fosse para ser muito bem remunerada”, afirma, reclamando que o mercado não oferece bons salários.
Fonte: G1